Paradoxos

Deu no Via Política:
por Juan Gelman

O presidente W.Bush ameaçou com uma intervenção militar no Paquistão. Surpreendente: o general ditador Pervez Musharraz – sempre entretido em violar os direitos humanos dos paquistaneses – foi e é o melhor aliado que a Casa Branca tem na região. Mas a ameaça não nasce da vontade de impor a “democracia e a liberdade” também ali: uma coisa são as ditaduras e outra os regimes autoritários, como se dizia em Washington durante as ditaduras militares do Cone Sul. Eram regimes autoritários certamente, e nada mais.

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A ajuda norte-americana ao Paquistão alcançou a soma de 10 bilhões de dólares desde os atentados das Torres Gêmeas, colocando-o em segundo lugar, depois de Israel. Nesse quesito, Bush pressiona para que o Congresso aprove 300 milhões de dólares adicionais, com o objetivo de converter os corpos paquistaneses de fronteira, uma herança colonial, em uma força contra-insurgente moderna. Mas a maioria de seus 80.000 homens são pashtuns e ajudam os talibãs e alcaidistas a passar de um país ao outro (Boston Globe, 22/07/07).

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Na quinta-feira da semana passada, Tony Snow, porta-voz da Casa Branca, entrou em sintonia com a estimativa do CNI e disse:” Não há dúvidas que é necessário tomar medidas mais agressivas” no Paquistão (Reuters, 18/07/07). Na segunda-feira desta semana baixou o tom: “Creio que flutuava a idéia, ou ao menos uma intenção, ou de algum modo uma tendência, de que íamos invadir o Paquistão” (New York Times, 24/07/07). E o leitor observa que logo recordou: “Sempre mantivemos a opção de atacar alvos criminosos, mas também somos conscientes de que o Paquistão tem um governo soberano”. Para a Casa Branca, o respeito à soberania alheia é apenas um conceito de aplicação variável.

Fonte: La Bitacora de Gelman
http://juangelman.com/wordpress/2007/07/26/paradojas/

Traduzido do espanhol para o português por Omar L. de Barros Filho, editor de ViaPolitica e membro de Tlaxcala, a rede de tradutores para a diversidade lingüística.


Leia na íntegra em http://www.viapolitica.com.br/fronteira_view.php?id_fronteira=103